Quando nos mudamos para um novo país, um fenômeno incrível ocorre conosco, um fenômeno extremamente conflitante: assim como descobrimos muito sobre nós e ganhamos um vasto autoconhecimento, também nos perdemos e nos alienamos de nós mesmos. Conversando com amigas e seguidoras, também percebi que, no caso de mulheres que são mães, essa jornada fora do país é também reaprender mais sobre si mesmas. E falarei sobre isso nesse texto também.
Decidi trazer esse tópico pois, eu e muitas amigas nos sentimos assim, e também vi que muitos mentorandos também se sentiram. Acredito ser importante explicar como é possível se conhecer tanto e ao mesmo tempos se auto alienar, e o que devemos fazer para enxergar quem somos dentro desse outro país que estamos vivendo.
O GANHO
Ganhamos autoconhecimento em inteligência emocional, ou seja, começamos a entender melhor nossos sentimentos, e até a descobrir novos sentimentos que nunca nem havíamos imaginado. Sabemos que precisamos aprender a ser mais flexíveis pois a cultura é diferente, enxergamos pontos que precisamos desenvolver como comunicação (alguns países tem comunicação direta, outros, como o Brasil, indireta. Isso precisa ser desenvolvido) Para nos adaptarmos, precisamos nos abrir pra essa nova cultura, e dar espaço pro novo entrar. Fora que aprendemos mais sobre o que gostamos, o que queremos, nos abrimos pra novas possibilidades.
No caso de mamães que saíram do Brasil e foram para o exterior, esse é um momento delicado, pois tudo escrito acima está acontecendo, e, ao mesmo tempo, existe uma nova rotina escolar para a criançada , e sem sua família por perto. O que antes era conhecido e confortável, passar a ser sombrio e dar espaço para um vazio, para algumas pessoas é pequeno, para outras é grande.
A PERDA
Nesse meio tempo, começamos também, a nos perder. Aquela versão de nós, quando vivíamos no Brasil, começa a ficar pra trás, pra dar espaço a tudo de novo que está entrando em nossa vida. Então, nossos hobbies, gostos, rotina, vão entrando em esquecimento. E com razão! Nosso cérebro não consegue processar tanta coisa nova sem precisar deixar um pouco do antigo de lado.
E, no caso das mulheres que saem daqui com os filhos, a mudança da rotina diária da criança, pode ter um impacto maior, e essa perda de si mesma, pode pesar mais. Já a brasileira que se torna mãe no exterior, sofre a perda de quem ela é antes da maternidade, como descrito acima, e depois do nascimento do bebê, vem a necessidade de focar nessa nova realidade, tornando o auto alienamento cada vez mais forte.
E, com isso, para todos (sendo mãe ou não), vem os desafios diários de se sentir perdido. Não saber o que fazer da vida, não entender se gosta ou não de alguma coisa, não fazer aquilo que te faz feliz (as vezes uma coisa boba como ler um livro na praia). E junto disso, vem a tristeza profunda, pessoas com depressão, que não sabem por onde começar, o que precisa mudar, e o que pode ser feito pra remediar tudo isso.
Acredito ser muito importante alertar: se você está sentindo uma forte depressão, procure terapia, e se possível, especializada em pessoas expatriadas. Essa pessoa poderá te dar apoio, e te mostrar algumas saídas para a sua situação atual.
A SOLUÇÃO
Na realidade, o que está faltando na sua vida nesse outro país é um pouco mais de você. Com tanta mudança, você acabou se perdendo, se deixando levar pelo novo, esquecendo das coisas que são importantes pra você.
Assim que cheguei no exterior, acabei deixando de lado muitas coisas que eram importantes pra mim como: assistir seriados que eu amava, fazer as unhas, ir ao cinema. Parece besteira né, são coisas tão simples e bobas, mas elas me deixam feliz, me deixam equilibrada, e fazem parte de quem eu sou. Deixar de fazer essas pequenas coisas por alguns meses, me deixou meio perdida, meio sem chão. Por sorte percebi isso logo e consegui mudar.
O que você precisa é enxergar que o novo existe sim na sua vida, mas o antigo precisa ter espaço também. Então, faça uma lista de todas as coisas que você gostava de fazer quando estava no Brasil, coisas que faziam parte da sua rotina. Por exemplo: ir a academia, caminhar/correr em um parque ou algum outro local, assistir filme toda sexta, fazer massagens, jogar videogame. A ideia aqui é você lembrar de traços da sua rotina de lazer antes de ir pro exterior (e antes da maternidade). Faz uma viagem a memory lane, como eles chamam em inglês, traduzindo mal e porcamente, Beco da Memória.
E, com o tempo, recolocar essas coisas que você gosta de fazer na sua rotina, misturando com o novo que entrou. Porque, lembre-se, você precisa continuar vivendo de acordo com a rotina daí também. O importante é dar espaço pro antigo estar presente assim como o novo.
Para as mamães, as coisas podem ser mais complicadas, então vou dar um exemplo mais real.
Tem um seriado que eu amo, se chama How I Met Your Mother, e na temporada 8, uma das personagens, Lily, que é professora de jardim da infância e acabara de se tornar mãe, se vê em uma das situações mais difíceis de sua vida. Ela sempre sonhara em trabalhar com arte, pintando quadros, e, por questões da vida, do dia-a-dia, do casamento, acaba deixando esse sonho de lado. Um dia ela nota que o marido, Marshall, correu atrás do sonho dele e trabalhava como advogado ambientalista, enquanto ela, havia se perdido e não foi atrás de seus sonhos. Foi um grande choque pra ela, e, apesar de ser apenas um seriado, chorei. Conseguia sentir sua dor em abrir mão de seus sonhos pela sua vida pessoal, pra no fim, ver que, independente de marido e filhos, ela continuava incompleta. Não vamos entrar em tantos detalhes, ela, por fim, alcança sim seu sonho. Mas ela precisou enxergar novamente tudo aquilo que ela tinha paixão, pra notar que existia um vazio a ser preenchido.
Acredito que, no caso de mulheres que se tornam mães, com a vivência no exterior, acabam deixando de lado sua história. Seus sonhos. Porque, a gente sabe, a vida acontece, e a maternidade tem demandas fortíssimas.
Mas, entre tantas coisas que acontecem quando vamos pro exterior, se tem uma coisa que você não pode esquecer é sua essência. Aquilo que te move, que te traz felicidade. Então, reencontre seu sonho, liste aquilo que você desejava fazer e se perdeu pelo caminho, e vá abrindo espaço pra isso entrar na sua rotina novamente. Não estou dizendo que vai ser fácil. Mas não é impossível.
Lembre-se: os filhos crescem, o casamento tem altos e baixos, em alguns casos até, infelizmente, acaba, mas quem você é, isso continua para sempre.
Sendo mãe ou não, a jornada da vivência no exterior é complexa, e as dificuldades que vêm com ela são muito reais. Com esse texto, procurei te mostrar que é normal se conhecer muito mas, ao mesmo tempo, se perder, e o importante que eu quis ressaltar é que você precisa continuar sendo você pra não se auto alienar.
A vivência no exterior gera muita bagagem, muito aprendizado, e, acima de tudo, te dá a oportunidade de ser a sua melhor versão. Aproveite essa experiência única para ir de reencontro com sua essência e misturar isso com tudo de novo que está entrando em sua vida, e siga o caminho da felicidade.